terça-feira, dezembro 31, 2002
no ônibus de volta para casa. a escola tinha sido um saco. especialmente agora no final. não necessariamente porque fosse aula de matemática - a voz e o sorriso do professor arrogante inimigo secreto tinham ficado apenas de longe, acenando da margem. em vez disso na cabeça de fernanda era apenas lisa lisa lisa. deveria ser bom pensar em lisa, mas não era. era na verdade uma tortura. e era lisa quem torturava, com as armas oh tão amoladas da intransponiblidade que fernanda própria punha em suas mãos. mas com um prazer que lhe era próprio. quase um autoflagelo.
do ônibus de volta pra casa, havia lisa em todo lugar na rua passando num carro sobre os telhados. e não havia lisa em lugar algum. na escola, fernanda não queria deixar lisa. mesmo que estivesse lisa ao longe, fernanda não queria deixá-la sozinha sem o seu controle, sem a sua enternecida vigilância, sem que lisa caminhasse sob seus olhos, sem que pudesse se desprender um sorrido de lisa que fernanda não soubesse a razão. mas fernanda foi embora e fingiu ir com a indiferença cultivada por seu medo. fernanda tinha medo de ser vista ao lado de lisa, de ser vista vendo lisa, de modo que não pensassem que se importava com ela. depois fernanda sentia remorso, se clamava idiota, desejava perdidamente encontrar com lisa de novo em qualquer lugar, para então não se sentir à vontade e deixá-la de novo com a sua falsa indiferença. fernanda se sentia oprimida pela vontade que não podia controlar de ter lisa por perto e mais ainda pela certeza que tomara para si da impossibilidade de tê-la. enquanto o ônibus ia - lisa lisa lisa, droga droga droga. fernanda estava melancólica. não chegava a estar triste, porque a melancolia ainda preserva alguma beleza e poesia e leveza. e fernanda se sentia tão leve e tão bela. lisa que rima com lisa que rima com lisa. mas ao descer do ônibus melancólica, lisa lisa lisa, fernanda foi pega de lado por uma bicicleta que ia passando do lado do ônibus e que ela não viu. não que ela estivesse distraída, foi tudo só uma simples fatalidade, um milissegundo na dinâmica dos cosmos. uma vertigem. fernanda quebrou o braço esquerdo na queda. enquanto gritava e recebia socorro e chorava e as outras pessoas rodeavam o ciclista, aquela parede de pernas ao seu redor, fernanda esqueceu lisa. e foi para casa, e daí com sua mãe ao pronto-socorro. fernanda não parava de chorar, estava assustada, era sua primeira experiência com ossos quebrados. os raios-x, o gesso, os enfermeiros, os outros pacientes, as palavras saindo banais da boca do médico, a assinatura mecânica na receita dos analgésicos. fernanda não quis almoçar quando chegou em casa. ficou sentada no sofá esperando passar a fome, seu pai chegar do trabalho, começar o noticiário da hora do almoço, as primeiras explicações, a hora do curso do francês, acostumar-se com a idéia do que lhe tinha acontecido. no meio do aborrecimento de fernanda, tocaram a campanhia. fernanda gritou pela mãe e havia um pouco de raiva em sua voz. a mãe veio correndo lá de dentro, passou por fernanda, foi lá para fora e voltou para a sala. - fernanda, tem uma moça aqui querendo falar com você. - quem é? a mãe foi lá fora outra vez e voltou. - é a moça que lhe atropelou. fernanda se levantou meio esconsa, curiosa, esticando o pescoço ao cruzar a porta para ver “quem? a moça que me atropelou?” no portão. da varanda, fernanda viu uma moça que não podia saber se era mesmo a pessoa da bicicleta porque não tinha visto seu rosto na hora em que estava caída. mas pôde desconfiar que era, por causa de um braço quebrado que ela também tinha. a moça sorriu. era bonita. tinha vindo se desculpar. levaram ela pra dentro. na varanda, as três conversaram. a cada “me desculpa, foi minha culpa”, a moça da bicicleta ouvia um “tudo bem”; a cada “eu pago o hospital”, ela ouvia um “não precisa, foi um acidente, você também se machucou”. a moça era bonita, devia ter 20 anos e alguma coisa. era bonita e amigável e se chamava laís. enquanto ela falava, o aborrecimento de fernanda ia passando. fernanda ficou quase o tempo todo calada enquanto laís e sua mãe falavam de acidentes. de como aquela avenida é perigosa, de como os ônibus param longe da calçada, das fraturas de laís, de como somos todos tão frágeis. laís era bonita. era branca e tinha uns cabelos castanhos lisos tão lindos. segurava os óculos escuros com a mão esquerda que não tinha se machucado, e falava como uma menina que parecia divertida e amigável, e se vestia como uma menina que parecia rica e séria mas que não era arrogante e nem chata. fernanda estava fingindo que não estava prestando atenção em laís enquanto ela falava. fernanda estava com o coração cheio de simpatia. o aborrecimento tinha passado, a moça da bicicleta e o atropelamento pareciam já coisas separadas. talvez tanto pela educação e pela atenção da moça, quanto pela proclamada libido imbecil de fernanda subindo e descendo dentro de seu corpo. laís parecia interessada na conversa com a mãe de fernanda, e a mãe de fernanda gostava mesmo de conversar. mas laís olhou em seu relógio no braço que não tinha se machucado e parecia preocupada de verdade com o tempo, com algum compromisso, precisava ir. abriu a bolsa, e dali tirou um caderno pequeno com a capa vermelha, uma caneta e tentou escrever qualquer coisa com a mão machucada porque ela não conseguia fazer nada com a mão que não tinha se machucado. se deu conta de como estava incapacitada de escrever, e a tentativa frustrada foi até engraçada, a caneta acabando caída no chão. todas elas riram. e fernanda riu com gosto, era bom ser cúmplice da graça de laís, uma menina linda e simpática. era a oportunidade de rir junto com outra menina, de testar sua empatia com meninas. fernanda tinha medo delas, mas com laís ela conseguia sentir, e não sabia esconder, uma enorme simpatia. fernanda se apressou em apanhar a caneta do chão. - eu queria anotar o meu telefone. - fernanda... - pediu a mãe. fernanda não tinha quebrado o seu braço bom o de maior utilidade. anotou com o rubor da fantasia quase lúdica de que trocavam telefones como amantes o número que laís ditou, destacou a folha do caderninho e ficou com ela na mão. era para o caso de elas mudarem de idéia sobre o acerto de contas, disse laís. - mas não precisa... - insistiu a mãe, que não gostava de pessoas que insistiam. - então você pode me ligar só pra dizer se conseguiu sobreviver, fernanda. laís riu. fernanda riu, encabulada, e olhou para a mãe. laís se desculpou de novo, pôs os óculos escuros para modelos inatingíveis de rostos longilíneos, se despediu e foi embora. enquanto laís ia indo embora e sua mãe indo para dentro, fernanda encostada no portão reparava na primeira. laís indo embora. suas costas sua beleza seus cabelos seu braço quebrado. e era isso o que as unia - um braço quebrado - fernanda e outra menina - não a reunião na varanda - mas o acidente - mas o choque - as duas vítimas iguais. fernanda ainda viu de longe laís enfiar o dedo no gesso pra tentar coçar o braço. e riu do quão prosaico lhe pareceu aquilo. e estranhamente sentiu que o seu braço coçava também. domingo, dezembro 29, 2002
i might be wrong imight be wrong i "This page is hosted by House upon the Rock Christian Church in San Diego, CA. We host this page because we truly believe that David is sincerely sorry for the pain he has caused in the past, and that he has truly repented and become a new person in Jesus Christ. We do not worship David Berkowitz or who/what he has become. We worship the God who changed a person like him, and can also change you. We only run this site to bring Praise and Glory and Honor to our Lord Jesus Christ for the work he is doing in David's life and in the lives of countless others. Only Jesus can change a serial killer and an avowed Satanist into a lover of people and a lover of God. We consider David to be a true brother in the Lord Jesus and hope you too will come to know the love of Jesus in your heart."" lets go down the waterfall have ourselves a good time is nothing at all nothing at all nothing at all nothing at all. ![]()
|